Lei da caloria zero - Los Angeles
Vereadores de Los Angeles proíbem a abertura de lanchonetes de fast-food na zona sul da cidade, que concentra a população de baixa renda e tem um índice de obesidade superior ao dos outros bairros. Veja mais:
Com o índice de obesidade na casa de 34% da população adulta e 16% da infantil, os Estados Unidos estão em alerta contra os efeitos nefastos do excesso de calorias.
Em matéria de combate à gordura, porém, até hoje não se viu no país nada semelhante ao que ocorre em Los Angeles, na Califórnia. Na semana passada, a câmara municipal aprovou uma lei que proíbe a abertura de novas lanchonetes de fast-food na zona sul da cidade, região que concentra os moradores de baixa renda.
A proibição cobre uma área de 83 quilômetros quadrados, o equivalente a duas vezes o bairro carioca da Barra da Tijuca. Na área vivem 500 000 pessoas. A norma será válida por um ano, com possibilidade de ser prorrogada. A entrada em vigor da lei ainda depende da assinatura do prefeito Antonio Villaraigosa, mas tudo indica que ele irá sancioná-la, já que ela foi aprovada pela câmara por unanimidade.
Segundo o raciocínio dos legisladores, com menos opções de lanchonetes que oferecem hambúrguer, pizza e frango frito a população seria estimulada a procurar alimentos mais saudáveis. Na zona sul de Los Angeles, 45% dos restaurantes são de fast-food, contra apenas 19% nas regiões mais vistosas da cidade, como Hollywood e Beverly Hills. A câmara também prevê incentivos econômicos a empresários dispostos a instalar lanchonetes, restaurantes e empórios de alimentos que ofereçam saladas e cardápios menos calóricos. "Precisamos atrair para esses bairros estabelecimentos que ofereçam uma alimentação saudável, e devemos fazê-lo de maneira agressiva", diz a autora da proposta, Jan Perry.A lei anti-hambúrguer de Los Angeles pode parece discriminatória. Afinal, por que a cidade decide intervir no que comem os pobres e não faz o mesmo com os ricos?
Proibir os salgadinhos e refrigerantes nas cantinas escolares faz sentido, já que as crianças podem não compreender os riscos que seu consumo abusivo representa. Mas será que os adultos precisam de quem lhes determine o que comer? Para os defensores da proibição, ela se justifica, em grande parte, pelas peculiaridades da zona sul de Los Angeles.
Além de abrigar a população pobre, a região é também a que apresenta a maior taxa de criminalidade. Em 1992, ela foi palco de alguns dos piores distúrbios de rua ocorridos nos Estados Unidos. A pretexto de protestar contra a decisão de um júri que absolveu policiais brancos filmados surrando um motorista negro, turbas enfurecidas promoveram saques e destruição, causando um prejuízo calculado em 1 bilhão de dólares.
A disseminação de gangues criminosas é um dos motivos pelos quais o bairro tem poucas opções de alimentação saudável – diante da violência, muitos donos de mercados e armazéns preferem fechar as portas e se bandear para outras regiões. Por causa disso, muitos habitantes da área nem sequer têm onde comprar legumes e verduras perto de casa – mas não faltam lanchonetes de fast-food.
Outra justificativa para a lei anti-hambúrguer é que a obesidade ocorre principalmente entre as pessoas de baixa renda. Essa faixa da pirâmide social consome mais alimentos ricos em gorduras e carboidratos, não se sente seduzida pela mania do culto ao corpo ou não tem tempo e condições financeiras para fazer exercícios físicos em academias. No Brasil ocorre o mesmo fenômeno.
Segundo um estudo da Universidade de São Paulo, entre 1995 e 2003, o número de brasileiras obesas pertencentes às classes D e E cresceu 30% na Região Sudeste. No mesmo período e região, houve queda de 40% na taxa de obesidade entre as mulheres das classes A e B.
A aprovação da lei contra a fast-food em Los Angeles repercutiu positivamente entre vereadores de outras cidades. A prefeitura de Nova York estuda tomar medida semelhante.
A obesidade, nos Estados Unidos, é hoje considerada um problema de saúde pública.
Nas escolas, tornou-se corriqueiro medir o índice de massa corpórea das crianças – e enviar cartas aos pais alertando-os sobre a possibilidade de que elas se tornem obesas.
Diante disso, não é difícil compreender a atitude dos vereadores de Los Angeles, mesmo que a lei aprovada seja controversa.
Fonte: Veja 08.2008
2 comentários:
Maus hábitos alimentares podem resultar em muitos problemas de saúde como a obesidade, que é resultada do peso excessivo e causa transtornos psicológicos, além de uma gama enorme de doenças lesivas – essa é parte da sinopse de Super Size Me, documentário americano que mostra como as culinárias tradicionais vão sendo atropeladas pelos fast-foods, e estes cada vez mais conquistando os cardápios das pessoas que preferem uma alimentação rápida e gordurosa à balanceada.
Propondo a retirada de redes de alimentos industriais das regiões desprivilegiadas de Los Angeles, a lei da caloria zero é equivocada, pois não é transferindo as lanchonetes que a população vai se conscientizar e deixar de comer mal. Nunca fui aos Estados Unidos, mas já ouvi muitos falarem que suas prateleiras são lotadas de produtos enlatados de fácil preparo, porém com baixo nível protéico. Há até quem chame “comida-de-borracha”, mas deixemos tais insinuações para os irônicos de plantão.
Acredito que as pessoas têm consciência do que devem ou não comer, por isso não concordo com o fato de o Governo ter que interferir na alimentação da população. Seu trabalho deve ser limitado a questões fundamentais como bem estar, saúde e segurança, que a propósito, deve ser reforçada nos mesmos bairros, para conter a proliferação de gangues criminosas que assustam parte dos comerciantes que lá se instalam.
Nada de banir hambúrgueres! A lei só teria eficácia de prevenção se implantada desde cedo, em escolas primárias, pela reeducação alimentar e no discernimento do que é bom ou ruim para saúde. Afinal, quantas vezes vamos ter que assistir ao documentário para comprovar o óbvio?
Concordo com você. Mas como para gestores o mais econômico é criar leis e punir que educar essas são medidas adotadas.
Posto essas notícias como forma de dizer a que ponto chegamos enquanto civilização que cultiva e entende como sendo top de evolução, tecnologias, máquinas que pensem, e façam por nós. Estamos chegando ao extremo do sedentarismo.
Como tudo na vida tem um preço, estamos pagando muito caro pelo nosso estilo de vida.
Um abraço.
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